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Conversas sobre um projeto fotográfico: “A fotografia do Jorge Bacelar”

A sala esgotou a Zoom profissional do MIRA FORUM que aloja 100 participantes. Foram muitos os que chegaram mais cedo para guardar lugar na noite de quarta-feira, 24 fev 2021, para o que foi uma bela sessão: pelas fotografias, pela intervenção do Jorge Bacelar, pela participação ativa dos participantes. Aqui fica o registo do seu testemunho.

A fotografia do Jorge Bacelar

O que distingue as fotografias de Jorge Bacelar não é o tema – as relações entre os humanos e a natureza no mundo rural – mas o modo como vive esse mundo que afeta literalmente o seu olhar. Veterinário na Murtosa, Aveiro, não convoca a paisagem nas suas fotografias: estábulos, cozinhas, garagens e anexos das casas são os cenários onde exerce a sua profissão de cuidar e também a de fotografar pessoas e animais. São lugares domésticos, preservados de olhares de gente de fora, mas o Jorge é da casa, sabe-lhe os cantos, ouve as mágoas e as esperanças dos donos, entristece-se com as deceções, alegra-se com as conquistas, acompanha a calma dos pousios e o frenesim das colheitas. O seu tempo é o dos agricultores, o tempo das estações e da roda do sol; o outro tempo despe-o com o casaco que pousa num toro feito bengaleiro improvisado e ali se aquieta numa lógica de um mundo outro. Sofre com a perda de um animal, rejubila com a sua recuperação e festeja o nascimento das crias e, sinceramente, acha que cada um dos vindos ao mundo é dos mais bonitos e saudáveis que já viu. O Jorge não visita os agricultores, vive com eles, chama-lhes a “minha gente”, os “meus agricultores” porque são a sua família, as suas casas são parte da sua casa alargada geograficamente, mas com um só endereço: o do afeto, do respeito, da empatia, da compaixão.

Falar da técnica fotográfica do Jorge é um exercício tonto, querer saber como ele faz é uma pergunta sem sentido porque as suas imagens não se explicam por uma fórmula que equaciona o equilíbrio de brancos, a profundidade de campo, a abertura do diafragma… A fotografia do Jorge é feita de tempo, de bem querer, de memória, de cumplicidade.

Intimidade será talvez a palavra mais acertada para dizer a sua fotografia.

(Manuela Matos Monteiro, MIRA FORUM)

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